Entre janeiro e setembro, preço médio de alimentos para animais acumularam alta de 15,46%, enquanto a taxa para alimentação no domicílio foi de 6,53%. Abrigos para animais se dizem desesperados diante deste cenário.
“Estamos no caos e eu não sei o que vem pela frente. Quem tem abrigo está vivendo uma situação realmente muito difícil”.
Luli Sarraf, presidente da ONG Celebridade Vira Lata, do Rio de Janeiro, fala de um problema que é realidade da maioria das entidades de proteção animal – e dos tutores de pets em geral também.
Se colocar comida na mesa está cada vez mais caro para o brasileiro, ainda mais pesado para o bolso está colocar ração nos comedouros de cães e gatos no país. Ao longo do ano, a inflação sobre a alimentação animal supera o dobro da registrada entre os alimentos e bebidas para os humanos.
A prévia da inflação de setembro, divulgada na última sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o preço médio da alimentação no domicílio acumulou alta no ano de 6,53% e a fora do domicílio, de 6,09%. Já a taxa acumulada entre os alimentos para animais chegou a 15,46%.
Uma pesquisa realizada pela Euromonitor International apontou que, em 2020, o Brasil superou o Reino Unido e se tornou o segundo maior mercado de produtos pet do mundo, com 6,4% de participação global. Perde apenas para os Estados Unidos, que têm assombrosos 50% do mercado.
“Esse mês eu gastei R$ 610 com ração comum. Ano passado eu gastava, mais ou menos, R$ 400 e pouco por mês”, disse a aposentada Maria Aparecida Pereira Metelo, de 60 anos, que mantém em casa nove cachorros e três gatos que, juntos, demandam cerca de 60kg de ração por mês.
Maria vive com seus pets em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O aumento real da ração por lá, segundo ela, é ainda maior que o registrado pelo IBGE.
“Ano passado eu comprava um saco de 15kg de ração para os cachorros por, mais ou menos, R$ 100. Agora eu compro um saco de 20kg por R$ 180”, contou. Ou seja, o valor por cada quilo de ração saltou de R$ 6,60 para R$ 9, o que corresponde a um aumento de, aproximadamente, 35%.
Questionada, Maria disse que não buscou, até agora, nenhuma alternativa para reduzir o gasto com a alimentação dos pets.
“Eu não tenho tempo para fazer comida para eles e prefiro não diminuir a qualidade da ração que compro, senão, lá na frente, eles acabam tendo muito problemas de saúde. E os preços de remédios, de exames e veterinários também estão cada vez mais caros”, destacou.
Os remédios de uso veterinário não são pesquisados separadamente pelo IBGE para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país.
‘Estamos desesperados’
Se o aumento de preços da ração pesa para Maria, que mantém 12 pets, imagina para quem abriga 400 gatos e precisa comprar cerca de meia tonelada de alimento por mês.
“Estamos desesperados, tentando ver com novos distribuidores se conseguem nos repassar as rações ao menor custo possível”, diz Perla Poltronieri, fundadora e presidente da Catland, ONG instalada em 2012 no Jabaquara, bairro na Zona Sul da capital paulista, que se dedica ao resgate de gatos abandonados na cidade.
Perla enfatizou que “a alimentação é uma parte fundamental” do trabalho desenvolvido pela ONG. Isso porque a entidade prioriza o resgate de gatos idosos, machucados e doentes.
“Eles precisam de rações especiais, medicamentosas, ricas em nutrientes específicos. As rações normais encareceram muito, mas as medicamentosas aumentaram muito mais. Eu pagava cerca de R$ 100 em um saco de 3,5 kg, e agora estou pagando R$ 150, ou seja, 50% mais caro. E essas rações representam 20% do consumo na Catland”, ressaltou a fundadora.
Outro impacto relevante da inflação nas demandas dos gatos foi sobre a areia higiênica. A ONG utiliza 750 kg por mês e, segundo Perla, o gasto médio mensal saltou de R$ 1,2 mil para 1,8 mil, o que representa um aumento acima de 50%.
Além do impacto da inflação, a ONG também registrou grande aumento na demanda do abrigo em razão da pandemia. O local tinha capacidade para abrigar 300 felino e, atualmente, tem cerca de 100 a mais. Com isso, a despesa fixa mensal da Catland passou de aproximadamente R$ 70 mil para R$ 110 mil, um aumento de quase 60%.
‘Situação terrível’
Com uma demanda de 45 kg de ração por dia – cerca de 1,3 tonelada ao mês – a ONG Casa de Lázaro, que funciona há oito anos em Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, tem passado dificuldades para manter abrigados cerca de cem cães.
“A situação está terrível. A gente acabou tendo que dispensar colaborares para poder manter os custos. A ração teve um aumento de 30%. A gente gastava em torno de R$ 10 mil por mês no ano passado, e hoje o gasto com ração é de mais ou menos R$ 13 mil”, contou Vanessa Pinto, fundadora e presidente da ONG.
FONTE G1