Jules Soto diz que espécies no litoral de Santa Catarina não são agressivas e que alargamento da faixa de areia pode ser positivo
O aparecimento de tubarões na orla de Balneário Camboriú (SC) após as obras de alargamento da faixa de areia era previsível, explica o geógrafo e curador do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Jules Soto, em entrevista à CNN neste sábado (16).
“É uma realidade. Eles estão aparecendo em um número maior principalmente nos últimos dois meses e isso se deve, muito provavelmente, por causa do distúrbio da dragagem, da jazida de areia que está sendo tirada para fazer o engordamento da praia. Era de certa forma esperado. É um fenômeno normal, visto que os tubarões são extremamente sensíveis ao ambiente. Qualquer alteração gera um distúrbio na dinâmica do ecossistema desse local”, disse.
Ele diz como o processo se desenvolve. “Camarões, pequenos invertebrados e pequenos peixes vem comer os organismos retirados do sedimento e que estão em suspensão. Isso atrai peixes um pouco maiores e com isso os tubarões, que vem comer esses peixes. Fazendo uma analogia, é como no campo: quando passa um trator com os discos de arado, potencialmente há uma grande concentração de aves que vem comer larvas de insetos e vermes da terra que ficam expostos. É a mesma coisa no fundo marinho e é o que vem acontecendo em Balneário Camboriú”.
Não há motivo para desespero, garante o geógrafo. “Quando se fala em tubarão, as pessoas associam automaticamente a ataque, elas entram em pânico por causa desse estigma com o nome ‘tubarão’. As espécies de tubarões potencialmente agressivas são raras, e não são típicas das praias de Santa Catarina, que não registram ataques como acontecem no Nordeste. Temos dados dos anos 60 de que pescadores artesanais chegavam a pegar de 15 a 20 tubarões todas as noites, e não há registros de ataques naquela época”.
Soto diz ainda que a obra pode ser positiva. “O engordamento da praia lá pode recuperar um ecossistema que estava perdido. Lá não tinha mais praia, não existia mais como fazer preservação lá”.
FONTE CNN