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Livrarias de bairro ganham força e resistem, apesar da forte concorrência do varejo virtual

Conheça a história de 3 livrarias de São Paulo. Elas querem continuar pequenas, criar conexão com a comunidade e estimular a leitura.

Livraria Megafauna, no Centro de São Paulo — Foto: Fernanda Martinez

Pequenas livrarias de bairro estão ganhando força, criando espaços para vender livros, mas também para criar vínculos com a comunidade e estimular o hábito da leitura.

Apesar do fechamento de grandes livrarias pelo país nos últimos anos, o mercado de livros cresceu em 2021. No primeiro semestre do ano passado foram vendidos 28 milhões de obras, aumento de 48,5% com relação a 2020.

Apesar do surgimento de novas pequenas livrarias, há um grande desafio para o setor: a concorrência com os grandes varejistas que vendem online.

‘O livro não perdeu seu poder de sedução’

O jornalista Alfredo Caseiro nunca tinha empreendido quando resolveu abrir uma livraria infantil, a Pé de Livro, em agosto de 2021, no bairro da Pompeia. Foram dois anos de planejamento.

“Desde que abri a livraria, o movimento supera as minhas melhores expectativas”, afirma.

Já na inauguração, em um fim de semana, Alfredo vendeu 300 livros. Em 5 meses foram mais de mil exemplares.

Sem experiência, ele fez o que todo especialista indica: buscou informação e conversou com donos de livrarias e pessoas do setor. Também estruturou muito bem seu plano de negócios e idealizou um lugar pequeno, onde ele mesmo cuida de toda a operação.

“Eu não quero crescer, não quero ter mais lojas. Eu já nasci sabendo que esse vai ser o meu tamanho. É um negócio, porque vivo dele, mas é meu projeto de vida”, conta.

Alfredo é dono da livraria infantil Pé de Livro e comemora vendas acima da expectativa — Foto: Fernanda Martinez

Alfredo é dono da livraria infantil Pé de Livro e comemora vendas acima da expectativa — Foto: Fernanda Martinezhttps://e59a61a030bde091a2a383e3d298d52e.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

A Pé de Livro abriu em uma época em que as pessoas já estavam sendo vacinadas e muito cansadas do isolamento social. Além disso, Alfredo usou seus anos como jornalista e divulgou muito seu negócio na imprensa.

“Outro diferencial é a curadoria de livros que fiz. Por isso escolhi focar em livros infantis. Fiquei 8 meses selecionando acervo, descobri mais de 90 editoras, fiz uma imersão profunda que eu não conseguiria fazer se fosse uma livraria generalista”, conta.

Livraria infantil Pé de Livro foi inaugurada em agosto de 2021, em São Paulo — Foto: Fernanda Martinez

Livraria infantil Pé de Livro foi inaugurada em agosto de 2021, em São Paulo — Foto: Fernanda Martinez

Contrariando a tendência do digital, Alfredo não investiu no online e escolheu ser uma livraria exclusivamente física. Ele faz entregas apenas na região ou pelos Correios, com pedidos eventuais que recebe pelo Instagram ou WhatsApp. Foi uma escolha estratégica, porque não vê sentido em concorrer com quem está muito mais estruturado e tem preços e condições melhores para oferecer nesse formato.https://e59a61a030bde091a2a383e3d298d52e.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Para o empresário, os donos de livrarias têm um papel crucial nesse momento de ‘massacre’ da tecnologia.

“Se a gente consegue apresentar o livro pra uma criança, ela se torna leitora pra vida inteira. Ainda hoje, o livro não perdeu seu poder de sedução”, afirma.

Livros pra mais gente

Beto Ribeiro começou a trabalhar no setor aos 16 anos. Só na Livraria Cultura ficou 10 – foi vendedor, treinador de equipe e gerente de loja. Em 2016, criou o seu próprio negócio, a Livraria Simples, que comanda com o amigo e sócio Felipe Roth Faya, na casa que foi da avó do Felipe, no bairro da Bela Vista.

É em clima de casa de vó que eles recebem os clientes. Tem cafezinho passado na hora e muita conexão com a comunidade – trabalho para mais 4 funcionários, além dos sócios. Nas prateleiras, exemplares novos, mas também usados.

“Pra realidade do Brasil, livro é caro. Vender livro usado é uma estratégia para atrair um público maior e dar acesso a mais gente”, explica Beto.

Aline Tieme e Larissa Simola, livreiras da Livraria Simples — Foto: Alexssandro Calixto

Aline Tieme e Larissa Simola, livreiras da Livraria Simples — Foto: Alexssandro Calixtohttps://e59a61a030bde091a2a383e3d298d52e.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Antes da pandemia, a livraria não vendia online. Com a chegada da Covid-19, foram 37 dias para colocar o site no ar. O faturamento caiu no início, mas logo se recuperaram. Em novembro de 2020 faturaram 20% a mais do que em novembro de 2019, por exemplo.

Em 2021, o movimento voltou a cair e Beto se vê um pouco pessimista para 2022, levando em consideração a situação do país, com a alta da inflação e muito desemprego.

“Os grandes magazines despertaram para o potencial estratégico do livro. Mas os preços que eles vendem é uma concorrência desleal com as pequenas livrarias”, diz.

Livraria Simples promove, aos sábados, uma troca de livros — Foto: Alexssandro Calixto

Livraria Simples promove, aos sábados, uma troca de livros — Foto: Alexssandro Calixto

Mesmo com esse cenário, a Livraria Simples segue seu trabalho de estimular a leitura, e claro, vender mais livros. Aos sábados, por exemplo, promovem uma troca de livros na calçada. Tardes de autógrafos e lançamentos também são importantes para manter financeiramente o negócio.

“A gente se mantém não para acumular capital, é pra viver e não sobreviver. E falo isso por mim e pelos meus funcionários. A gente quer pensar em um mundo melhor e mais justo”, diz.

Espaço para encontros

Megafauna, inaugurada em novembro de 2020 no Centro de São Paulo, nasceu com uma ideia de livraria que, além de vender livros, aposta também em um espaço para o debate sobre literatura, criação de conteúdo e dá atenção especial à curadoria.

“Apesar de ser uma livraria, a Megafauna não é um projeto apenas comercial. Ela nasce de uma vontade de trabalhar o ciclo do livro de uma maneira mais integral”, conta Irene de Hollanda, sócia da livraria.

Irene e Fernanda Diamant comandam de perto o negócio que tem ainda mais 3 sócios e uma equipe de 3 livreiros, além de 4 pessoas atuando na área de comunicação.

Localizada no Copan – por si só uma atração à parte – a livraria também acompanhou os altos e baixos causados pela pandemia.

Livraria Megafauna funciona dentro do Copan, no Centro de São Paulo — Foto: Megafauna/Tuca Vieira

Livraria Megafauna funciona dentro do Copan, no Centro de São Paulo — Foto: Megafauna/Tuca Vieira

Agora, a ideia é intensificar eventos e lançamentos presenciais, fundamentais para a saúde do negócio, segundo Irene.

“Desde o início, nosso projeto é ter um espaço dedicado ao encontro e ao debate presencial”, explica.

Para Irene, o setor está em transformação, tanto pelo fechamento de grandes redes de livrarias, como pela presença do comércio online.

“Esses novos espaços prezam pela qualidade de trazer a especialização de catálogo e trabalhar mais próximo a nichos específicos, fazendo uma segmentação. No caso da Megafauna isso é muito claro”, explica.

Detalhe de seleção de livros da Megafauna — Foto: Fernanda Martinez

Detalhe de seleção de livros da Megafauna — Foto: Fernanda Martinez

Na livraria, a escolha desse catálogo é pautado na diversidade cultural, com livros de grandes editoras, mas também de pequenas. E o principal: nem sempre os livros destacados na livraria são os de maior apelo comercial – muitas vezes são apostas literárias e ideológicas.

“Esse é o diferencial de livrarias como a Megafauna: trazer a escolha do livreiro e criar uma narrativa que tem menos a lógica da cultura de massa de grandes redes e mais o foco de produzir para um nicho”, afirma Irene.

fonte G1
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