Uso de energias como a solar e a eólica ganharam forçam em meio ao combate às mudanças climáticas
Com a urgência em combater as mudanças climáticas, as energias renováveis foram ganhando força e espaço no debate público. Cada vez mais, países anunciam que aumentarão o uso de fontes renováveis em suas matrizes, na chamada transição energética.
A ideia é reduzir a participação dos combustíveis fósseis — gás natural, carvão e petróleo —, que emitem gás carbônico quando são usados para gerar energia.
Como a demanda da sociedade por energia não cairia junto com a redução de uso desses combustíveis, é necessário encontrar substitutos mais amigáveis ao meio ambiente, e aí entram as energias renováveis.
O Brasil é um dos países de referência no uso de fontes renováveis em sua matriz elétrica. Dados de 2020 do Ministério de Minas e Energia apontam que pouco mais de 80% da matriz é renovável, com o domínio ainda sendo da chamada fonte hidráulica.
O que é uma energia renovável?
Segundo Virgina Parente, professora do IEE-USP, a definição mais comum para uma fonte renovável é que ela “não se altera e não se perde” ao gerar a energia. Entretanto, isso não se aplicaria à biomassa, por exemplo, ou à água usada em hidrelétricas.
Por isso, a definição mais precisa para esse grupo, de acordo com a especialista, é a de uma fonte “usada em velocidade menor do que a natureza consegue repor no horizonte humano”. Essa é chamada taxa de sustentabilidade, e ela garante que, enquanto houver demanda, a fonte não se esgotará.
Ou seja, a definição de uma fonte renovável depende do contexto. O bagaço de cana é uma das principais formas de biomassa usadas para gerar energia, mas se o uso ficasse tão intenso que a cana não pudesse ser plantada em nenhum lugar, a fonte se esgotaria em algum momento e, portanto. não seria mais renovável.
Além disso, Parente afirma que ser uma energia renovável não é sinônimo de ser uma fonte de energia limpa. Primeiro, ela considera que “não existe hoje uma fonte de energia limpa” se levarmos a definição ao pé da letra.
Para a fonte ser limpa, é preciso que ela não emita gases poluentes não só na geração de energia, mas em todas as etapas do processo, da fabricação dos equipamentos usados na geração, no transporte da fonte e na eliminação de resíduos produzidos.
“Não existe tecnologia de geração de energia que não tenha uma externalidade negativa ambiental ou social. Existem só energias que não são emissoras de gases de efeito estufa no momento da geração, e as renováveis tendem a emitir bem menos, ou não emitir, gases de efeito estufa na produção de energia”, diz.
A grande exceção nessa área é a energia nuclear. O processo de geração depende do urânio, que é enriquecido e cujos átomos são separados para gerar energia, no processo de fissão nuclear.
Por ser um minério, o urânio tem uma velocidade de reposição na natureza menor que a de uso, e portanto a energia nuclear não é renovável, mas é limpa no momento da geração. Todos os combustíveis fósseis são não renováveis e “sujos”.
Confira os tipos de energia renovável:
- 1 de 8As energias renováveis se tornaram uma tendência nas últimas décadas, vistas como uma das ferramentas essenciais no combate às mudanças climáticas. Confira os sete tipos de energia renovável que existem atualmente, e como elas funcionamCrédito: Getty Images
- 2 de 8A energia hidráulica é gerada a partir da água de rios, quando ela movimenta uma turbina. Em geral, ela é produzida nas chamadas usinas hidrelétricas. As usinas podem ser de dois tipos: as com reservatório (como a de Itaipu) e as de fio d’água, que não possuem reservatório e o volume depende do regime de chuvas (como a de Belo Monte)Crédito: Washington Alves/Reuters
- 3 de 8No caso da energia eólica, a produção ocorre quando o vento move pás de grandes turbinas. As mais comuns são as turbinas onshore – em solo – mas já existem também as offshore, localizadas em mares e oceanosCrédito: Foto: Laurel and Michael Evans / Unsplash
- 4 de 8A energia solar é dividida em dois tipos: a fotovoltaica (mais comum) e a heliotérmica. Na fotovoltaica, a luz solar incide em painéis, ou placas, que conseguem converter o calor em energia. Já nas heliotérmica, o sol incide em espelhos que direcionam a luz para um ponto com água. A água vira vapor, que, então, gira uma turbina e gera eletricidadeCrédito: Amanda Perobelli/Reuters
- 5 de 8A energia oceânica pode ser gerada a partir de diversas formas, mas sempre nos oceanos. É possível gerar energia a partir do movimento das ondas, pela variação de temperatura entre a superfície e o fundo do mar, pelas correntes oceânicas, por um processo de osmose entre a água salgada e a doce ou pelo movimento das marés. As ondas e marés são, hoje, as principais formas, com a ideia de usá-las para mover turbinas e, então, gerar energiaCrédito: Picasa/Coppe-UFRJ/Divulgação
- 6 de 8Ainda mais no campo das ideias do que com uso prático, o chamado hidrogênio verde é uma energia renovável que deve ganhar força nos próximos anos, como substituto de combustíveis fósseis nos setores de transporte e indústria. Produzido a partir da água, ele é colocado em células, que realizam um processo químico que gera energia e produz vapor d’águaCrédito: Getty Images/Santiago Urquijo
- 7 de 8A biomassa, termo que se refere a qualquer tipo de matéria orgânica, pode ser usada na geração de energia. É possível aproveitar os gases gerados na decomposição dessa matéria, como no caso do lixo orgânico, como fonte de energia, ou então queimar a biomassa, usá-la para aquecer a água e usar o vapor para mover turbinas, gerando eletricidade. No Brasil, a principal biomassa usada como fonte elétrica é o bagaço de cana-de-açúcarCrédito: Marcelo Teixeira/Reuters
- 8 de 8A energia renovável geotérmica é a mais distante da realidade brasileira. Isso acontece porque, nesse tipo, a energia é gerada a partir do uso de água quente e vapor localizados no subsolo de áreas vulcânicas ou de encontro de placas tectônicas, que, então, passam por um gerador e são convertidas em energia elétricaCrédito: Getty Images/ Brian Bumby
Energias renováveis no Brasil
Os últimos dados agregados sobre as matrizes elétrica e energética do Brasil foram divulgados em 2021, com referência ao ano de 2020. Na matriz elétrica, a fonte hidráulica correspondia a 65,2%, seguida pela biomassa (9,1%), eólica (8,8%), gás natural (8,3%) e as demais.
Já a matriz energética é menos renovável, já que nesse caso considera-se qualquer tipo de geração de energia, incluindo nos combustíveis de veículos. Com isso, a mais usada é a de petróleo e derivados (33,1%), seguido por derivados de cana-de-açúcar (19,1%) e hidráulica (12,6%)
Em ambos os casos, porém, a participação da energia renovável é superior à medida global. Levantamento da Agência Internacional de Energia (AIE) aponta que, em 2019, as renováveis tinham cerca de 25% de participação na matriz elétrica mundial, e de menos de 15% na energética. No caso brasileiro, a participação é de 83% e 46%, respectivamente.
A fonte hidráulica, com as usinas hidrelétricas, dominam a matriz elétrica há muitos anos, mas as fontes solar e eólica tem ganhado espaço conforme seus custos reduziram, refletindo o alto potencial do Brasil. A expectativa é que, em 2021, ambas tenham crescido, na esteira da crise hídrica.
Das fontes renováveis, a de energia oceânica e o hidrogênio verde são usados apenas em projetos ainda experimentais. Isso ocorre devido aos altos custos e falta de tecnologia, mas o país possui grande potencial nas duas áreas.
A única energia renovável impossibilitada no território brasileiro é a geotérmica, já que ela só pode ser usada em locais com atividade vulcânica ou de encontros de placas, o que não é o caso do Brasil.
FONTE CNN