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Doença de Parkinson: idade é fator de risco, mas jovens também podem desenvolver

Leia o artigo da Dra. Maria Fátima Cardoso Alves França, neurocirurgiã da Unimed Araxá

A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum na população mundial, atrás apenas da doença de Alzheimer. Estima-se que cerca de cinco milhões de pessoas em todo do mundo são portadoras da doença. Ela afeta cerca de 0,3% da população geral e de 1% a 2% da população acima dos 60 anos.

No Brasil encontrou-se uma prevalência de 3,3% em pessoas acima de 65 anos. A idade é um fator de risco inequívoco para a doença. Extrapolando para o número de idosos em nosso país, veremos que provavelmente são mais de 600 mil parkinsonianos com 64 anos de idade ou mais e isto não leva em conta os portadores jovens da doença, com formas precoces, que iniciam antes dos 40 anos de idade. Geralmente a forma precoce é mais associada à herança genética, mas o quadro clínico em si é o mesmo da forma tardia.

Se considerarmos o envelhecimento da população brasileira nas próximas décadas, poderemos entender o impacto social e econômico desta enfermidade, em um futuro não muito distante.

A doença

A doença de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva, causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor (substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas).

Na falta da dopamina, particularmente numa pequena região encefálica chamada substância negra, o controle motor do indivíduo é prejudicado, ocasionando sinais e sintomas característicos.

Esse conjunto de sinais e sintomas neurológicos é chamado de síndrome parkinsoniana ou parkinsonismo. Doenças diferentes e causas muito diversas podem produzir essa síndrome parkinsoniana. Entretanto, a principal causa dessa síndrome é a própria doença de Parkinson, em aproximadamente 70% dos casos.

Os demais casos relacionam-se a enfermidades ou condições clínicas nas quais os sintomas são semelhantes, porém outras características estão presentes e a história clínica e a evolução vão ajudar no diagnóstico diferencial. Portanto, quando se faz menção ao parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana, não se refere necessariamente à doença de Parkinson. Uma causa importante de parkinsonismo secundário é o uso de certos medicamentos (por exemplo, algumas das drogas usadas para vertigens, tonturas, doenças psiquiátricas e alguns remédios para hipertensão). A importância de se identificar esses casos é que os sintomas são potencialmente reversíveis com a interrupção dos medicamentos que os causaram.

Com o envelhecimento, todos os indivíduos saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina. Algumas pessoas, entretanto, perdem essas células (e consequentemente diminuem muito mais seus níveis de dopamina) num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença.

Não se sabe exatamente quais os motivos que levam a essa perda progressiva e exagerada de células nervosas (degeneração), muito embora o empenho de estudiosos deste assunto seja muito grande. Admitimos que mais de um fator deve estar envolvido no desencadeamento da doença. Esses fatores podem ser genéticos ou ambientais.

O perfil dos pacientes

Os pacientes desenvolvem a doença geralmente após os 55 anos de idade e não necessariamente têm algum familiar acometido. Poucos fatores ambientais são conhecidos, entre eles destacam-se a exposição a pesticidas e ao trauma craniano, embora a grande maioria dos pacientes que desenvolvem a doença não foi exposta aos fatores citados.

Por outro lado, 10% dos doentes apresentam a forma genética. Diversos genes foram descritos até o momento. Geralmente a forma genética tem início mais precoce, podendo mesmo começar antes dos 40 anos de idade.

Sintomas

Os principais sintomas da doença de Parkinson são a lentidão motora (bradicinesia), a rigidez muscular e os tremores de repouso notadamente nos membros superiores e geralmente predominantes em um lado do corpo quando comparado com o outro e, finalmente, o desequilíbrio.  A escrita, geralmente, é micrográfica (letra pequena) e a alteração postural, com flexão do tronco para frente, é característica. A voz fica mais baixa e monótona. Ocorre redução da mímica facial (hipomimia). Instabilidade postural pode se desenvolver mais tarde na doença de Parkinson; se presente no início da doença, deve-se suspeitar de diagnósticos alternativos. Os pacientes têm dificuldade de começar a caminhar, virar e parar. Eles dão passos curtos arrastados, mantendo os membros superiores flexionados na cintura e balançando os membros superiores pouco ou absolutamente nada em cada passo. Os passos podem se acelerar de maneira inadvertida, enquanto o comprimento da passada diminui progressivamente; essa anormalidade da marcha, chamada de festinação, costuma ser um precursor do congelamento da marcha (quando, sem aviso, a deambulação e outros movimentos voluntários podem cessar repentinamente). A tendência a cair para a frente (propulsão) ou para trás (retropulsão), quando o centro de gravidade é deslocado, resulta da perda dos reflexos posturais. A postura torna-se inclinada. Com o avanço da doença, os doentes podem apresentar dificuldade para deglutir.

Estes são os chamados “sintomas motores” da doença. Podem ocorrer também outros “sintomas não-motores” como hipotensão ortostática, dificuldade para deglutir, diminuição do olfato, declínio cognitivo, dor, transtorno depressivo, alterações intestinais e do sono.

O tremor da doença de Parkinson é característico. Ele é chamado de tremor de repouso, ou seja, é mais evidente ou exclusivo quando a mão do paciente está parada, seja em repouso quando o paciente está sentado, seja quando ele está em pé com os braços relaxados.

Quando o paciente executa algum movimento a tendência do tremor é diminuir ou desaparecer. Além disso, caracteristicamente o tremor é assimétrico, ou seja, é mais evidente em apenas um lado do corpo (geralmente as mãos), e com o passar dos anos pode afetar o outro lado.  Vale lembrar que nem todos os pacientes com doença de Parkinson apresentam tremor. Em 30% dos pacientes ele está ausente, sendo a lentidão dos movimentos e a rigidez os sintomas mais evidentes.

Diagnóstico

O diagnóstico da doença de Parkinson é essencialmente clínico, baseado na correta valorização dos sinais e sintomas descritos. O profissional mais habilitado para tal interpretação é o médico neurologista, que é capaz de diferenciar esta doença de outras que também afetam involuntariamente os movimentos do corpo. Os exames complementares, como tomografia computadorizada, ressonância magnética etc., servem também para avaliação de outros diagnósticos diferenciais. A condição ainda não pode ser detectada na sua fase pré-clínica ou pré-motora, porém já existe a possibilidade de diagnosticá-la precocemente e até mesmo de confirmá-la por neuroimagem funcional, mais precisamente com a cintilografia com Trodat marcado com 99mTc, um traçador que se liga seletivamente aos receptores de dopamina pré-sinápticos (DAT) na substância negra do mesencéfalo. A perda desses receptores tem correspondência com a perda dos neurônios dopaminérgicos e pode ser demonstrada de forma muito sensível nas imagens SPECT mesmo nas fases iniciais da doença. A redução da densidade desses receptores está associada com a gravidade e com a progressão da DP.  Este exame pode ser utilizado como uma ferramenta especial para o diagnóstico de doença de Parkinson, mas é, na maioria das vezes, desnecessário, diante do quadro clínico e evolutivo característico.

Tratamento

A doença de Parkinson é tratável e geralmente seus sinais e sintomas respondem de forma satisfatória às medicações existentes. Esses medicamentos, entretanto, são sintomáticos, ou seja, eles repõem parcialmente a dopamina que está faltando e, desse modo, melhoram os sintomas da doença. Ainda não existem drogas disponíveis comercialmente que possam curar ou evitar de forma efetiva a progressão da degeneração de células nervosas que causam a doença. Há diversos tipos de medicamentos antiparkinsonianos disponíveis, que devem ser usados em combinações adequadas para cada paciente e fase de evolução da doença, garantindo, assim, melhor qualidade de vida e independência ao enfermo.

Também existem técnicas cirúrgicas para atenuar alguns dos sintomas da doença de Parkinson, que devem ser indicadas caso a caso, quando os medicamentos falharem em controlar tais sintomas.

Tratamento adjuvante com equipe multiprofissional é muito recomendado, além de atividade física regular. O objetivo do tratamento, incluindo medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional, atividade física entre outros é melhorar a qualidade de vida do paciente, reduzindo o prejuízo funcional decorrente da doença, permitindo que o paciente tenha uma vida independente, com qualidade, por muitos anos.

Prevenção?

Não existe uma maneira inequívoca de prevenir a doença de Parkinson e o principal fator de risco é a idade. Sabemos, no entanto, que os hábitos de vida saudáveis, além de melhorar a função cardiovascular e reduzir o risco de infarto e de acidente vascular cerebral, também podem diminuir a incidência de doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson.

Controle da pressão arterial, diabetes, colesterol, evitar o sedentarismo são fundamentais, além de uma dieta adequada. Especial atenção à realização de atividade física. Estudos apontam uma tendência em uma menor incidência da doença de Parkinson em pessoas que realizam atividade física aeróbica regular ao longo da vida. A redução da neuroinflamação pela atividade física, em teoria, poderia reduzir o risco de desenvolver a doença.

Dra.  Maria Fátima Cardoso Alves França

neurocirurgiãDaniel Nacati
Assessor de Comunicação / Unimed Araxá
(34) 9.8893-8809

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