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Mineira que esperou mais de duas décadas para realizar sonho de ser dentista relembra trajetória: ‘passava na porta da faculdade e queria estar ali’

Ina Márcia de Oliveira Sousa ficou órfã ainda criança e trabalhou como doméstica aos 13 anos para sustentar a si mesma e os irmãos. Vaga na universidade foi conquistada aos 42 anos por meio do Prouni, que neste ano encerra as inscrições na quinta-feira (4).


Ina Márcia se formou em Odontologia aos 46 anos, em Uberaba — Foto: Capital Formaturas

Ina Márcia se formou em Odontologia aos 46 anos, em Uberaba — Foto: Capital Formaturas

Concluir uma graduação é um objetivo buscado por muitas pessoas e, quando conquistado, se torna motivo de orgulho para elas e os familiares. No caso de Ina Márcia Oliveira de Sousa, de Uberaba, a caminhada até o diploma foi ainda mais difícil e só foi finalizada em 2018, quando ela tinha 46 anos.

Agora, aos 49, a dentista conversou com o g1 Triângulo para contar sobre os obstáculos que enfrentou na busca para realizar o sonho de se formar.

Ela também falou sobre o Programa Universidade Para Todos (Prouni), método pelo qual ela conseguiu a vaga na universidade e que, neste ano, terá as inscrições para a edição do 2º semestre encerradas na quinta-feira (4).Compartilhe no WhatsApp

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InfânciaDe origem humilde, Ina ficou órfã quando tinha apenas 1 ano e 4 meses de idade. Após perder os pais, ela ficou sob os cuidados de outras pessoas até ser acolhida pela avó materna. Foi também nessa época que ela descobriu que tinha dois irmãos.

“A gente morava na roça, e nós viemos para Uberaba porque ela percebeu que precisava dar um futuro pra nós. Ela abdicou de tudo que ela tinha e dos sonhos dela na tentativa de dar um futuro para mim e para os meus irmãos”, lembrou.

Porém, quando Ina estava com 13 anos, a avó dela também faleceu. Para ajudar a si mesma e os irmãos, a então adolescente começou a trabalhar como doméstica. Mesmo assim, segundo ela, o sonho de estudar não se apagou.

“Eu passava muitas vezes na porta da faculdade, e o sonho que eu tinha ainda era conseguir entrar ali dentro”, contou.

Graduação

Aos 24 anos, Ina se casou com Elias Sousa, que trabalhava como protético e que tinha o sonho de se formar em Odontologia. Para acompanhar o marido, ela fez um curso técnico na área de ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, além de ter ajudado ele a participar do processo seletivo para ingressar na faculdade.

“Foi ali que meu amor pela odontologia começou, na vontade de mudar a realidade das pessoas e para elas entenderem o valor da prevenção. A odontologia, se tratada como prevenção, é o melhor remédio de todas as dores”, afirma.

Porém, o sonho de se formar na área só seria realizado mais de 20 anos depois. O primeiro passo foi dado quando a uberabense descobriu que poderia se inscrever no Prouni, ao visitar a escola do filho, Rafael.

“O diretor da escola me explicou que era um programa de bolsas para as universidades particulares. Naquele dia eu saí tão convicta que cheguei em casa e já falei meu esposo assim: ‘eu vou fazer faculdade’, e eles não entendiam”, continuou.

Desse momento em diante, ela colocou o ingresso na faculdade como meta. Ina ganhou uma bolsa e entrou no cursinho preparatório na escola em que o filho estudava.

No ano seguinte, a tão sonhada vaga na universidade foi conquistada pelo Prouni, e a futura cirurgiã-dentista entrou na Uniube, em julho de 2013.

Ina atua como dentista em um consultório que mantém com o marido em Uberaba — Foto: Ina Márcia/Arquivo Pessoal

Ina atua como dentista em um consultório que mantém com o marido em Uberaba — Foto: Ina Márcia/Arquivo Pessoal

Formatura

Passado o desafio de entrar na universidade, novos obstáculos apareceram no caminho de Ina: as aulas teóricas apresentavam temáticas que, segundo ela, eram difíceis para quem não havia concluído o ensino médio convencional.

“Foi quando todos os alunos e professores me abraçaram. Eles entendiam o momento que eu estava passando, entendi as minhas dificuldades e me estenderam a mão”.

Com o passar do tempo, a aluna que sempre sentava na primeira carteira da sala de aula e conversava com os professores passou a se acostumar com a rotina. Até que, em 27 de julho de 2018, Ina pode, enfim, segurar o tão sonhado diploma de Odontologia, aos 46 anos de idade.

Atualmente, Ina trabalha em um consultório junto ao esposo. Com o diploma em mãos, a agora dentista aconselha pessoas que, assim como ela, têm um sonho que, por vezes, possa parecer impossível.

“A gente tem que sonhar e a gente tem que buscar informação. Então, quando você tiver um sonho, que você busque todas as informações possíveis para poder atingi-lo. Talvez naquele momento seja impossível, mas um dia será possível. Tenha fé”.

Ina acompanhada pelo filho e pelo tio na formatura dela, em 2018 — Foto: Capital Formaturas

Ina acompanhada pelo filho e pelo tio na formatura dela, em 2018 — Foto: Capital Formaturas

Prouni

Utilizado por Ina para conseguir ingressar na Uniube, o Programa Universidade Para Todos (Prouni) do 2º semestre de 2022 está com as inscrições abertas até quinta-feira (4). O cadastro pode ser feito pela página http://acessounico.mec.gov.br/prouni.

O Prouni é um programa do Ministério da Educação (MEC) que oferece bolsas de estudo integrais (cobrem 100% da mensalidade) e parciais (50%) em instituições particulares de ensino superior.

Para se inscrever no processo seletivo, o candidato deve ter realizado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 ou 2021 e ter obtido média mínima de 450 pontos nas áreas de conhecimento e nota superior a zero na redação.

Além disso, é preciso atender a pelo menos um dos pontos abaixo:

  • Ter cursado o ensino médio completo em escola da rede pública;
  • Ter cursado o ensino médio completo em escola privada como bolsista integral;
  • Ter cursado o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada, na condição de bolsista integral;
  • Ter cursado o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada com bolsa parcial ou sem a condição de bolsista; e
  • Ter cursado o ensino médio completo em escola privada com bolsa parcial da respectiva instituição ou sem a condição de bolsista;
  • Ser pessoa com deficiência, na forma prevista na legislação; ou
  • Ser professor da rede pública de ensino, exclusivamente para os cursos de licenciatura e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica.
  • FONTE G1
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