O Brasil é um país pobre; sob muitos aspectos, miserável. Todos sabemos que 70 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Mas nada disso faz sentido quando vemos teatros, arenas e estádios lotados em shows de qualquer que seja o gênero musical, sempre oferecidos a preços abusivos, estratosféricos, inexplicáveis e, a rigor, impagáveis.
Atingimos o ápice desse paradoxo com a vinda (retorno, na verdade) de Andrea Bocelli. O muito digno tenor vai se apresentar, em 26 de maio de 2024, no Allianz Parque, com o ingresso mais barato, chamado esdruxulamente de “meia jovem baixa renda” vendido por cerca de R$ 2 mil reais. Caramba.
E não adianta reclamar. Tem quem pague. Estão aí para provar o masoquismo econômico de nosso povo eventos como Rock in Rio, Primavera Sound, Lolapallozza ou qualquer show de dupla sertaneja ou astro da MPB. Todos com ingressos esgotados, gente acampada nos portões, fãs enlouquecidos, milhares de celulares com suas luzes acesas na consagração desses rituais de ostentação e desapego pelo dia de amanhã.
Sem nenhum julgamento quanto à qualidade artística – até porque é pouca –, a cantora Luiza Sonza de apresentou ano passado com entradas ao preço de 700 reais. Imagina quando ela for famosa e tiver um repertório, que absurdo será. Como essa gente que paga ingresso sobrevive? De que se alimentam? Como se reproduzem?
Empresários do show bizz têm sua lista de explicações, principalmente para eventos com artistas internacionais: contratos em dólar, impostos, direitos autorais, hospedagens, transportes e concorrência (no caso de grandes nomes). De boa, nada justifica. Que eles queiram cobrar, tudo bem. Inaceitável é ter gente que aceita pagar.
FONTE R7