Tecnologia desenvolvida na Coppe-UFRJ promete neutralizar poluição desses veículos
Depois do compromisso das nações de acelerar a redução do uso dos combustíveis fósseis na COP26, um grupo de empresas do Rio de Janeiro formou uma parceria para fabricar e vender, nos próximos meses, ônibus movidos a hidrogênio verde e à eletricidade, tecnologias não poluentes.
Os protótipos foram desenvolvidos no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Coppe-UFRJ. A fabricação de um novo protótipo em escala pré-industrial começará no início do ano que vem. Depois dessa fase, será realizada a produção e a venda.
Segundo dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), quando se fala em poluição ambiental, os transportes são responsáveis por 47% das emissões de dióxido de carbono no Brasil, sendo 23% referentes ao transporte de passageiros e 25% ao de cargas. Esses dados, contudo, excluem as emissões relacionadas a queimadas e desmatamento.
Atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Transporte do Rio de Janeiro, na capital fluminense, a frota de ônibus a diesel é de 6.477 veículos – sem incluir o BRT. De forma aproximada, na cidade, as emissões de gases de efeito estufa chegam a 20 mil toneladas com a circulação desses veículos.
Na cidade de São Paulo, a situação é ainda pior: a frota circulante em dias úteis permanece em torno da média de 12.200 veículos – constituindo uma das maiores frotas de transporte público do mundo.
No mês de outubro, pelos dados do IEMA, foram emitidas na atmosfera 36,9 mil toneladas de dióxido de carbono por conta do uso desses transportes. Atualmente, a capital paulista tem 219 ônibus movidos à eletricidade.
Apesar do cenário atual de predomínio do diesel como combustível principal dos ônibus brasileiros, os investimentos vêm crescendo no mercado do hidrogênio verde – que é produzido pela eletrólise (quebra da molécula) de água ou a partir de biomassa.
“De março deste ano para cá, dobrou o número de empresas associadas à Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), hoje são 30. Isso ainda não é muito visível para a população em geral, mas os investimentos estão em curso”, afirma Paulo Emílio de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2) e professor de engenharia da Coppe-UFRJ.
Na instituição, atualmente, ainda se projeta um catamarã movido a hidrogênio, com capacidade para cem pessoas, que ficará pronto em 2023. Também há trabalhos para desenvolver pilhas a combustível de óxido sólido, que fazem a conversão eletroquímica da energia contida no combustível, usualmente o hidrogênio, em eletricidade.
“Os produtos de engenharia hoje utilizados gastam muita energia. O tanque do carro com gasolina, por exemplo, numa estrada plana e reta, com velocidade e aceleração constantes usa 18 % da energia, o resto é perdido. Na cidade isso cai para 8%. Uma pilha comum tem uma eficiência de conversão da energia química do combustível em energia elétrica acima de 45%, já nas de combustível de óxido solido, a eficiência sobe para 60%, e quando se usa uma turbina isso chega a 80%”.
Ainda de acordo com o pesquisador, a Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) prevê que em 2050 o mundo use sete vezes mais hidrogênio do que é consumido hoje.
“Atualmente, consumimos 120 milhões toneladas de hidrogênio, na indústria petroquímica e alimentícia, mas a maior parte desse montante é poluente, vindo do gás natural. Hoje o mundo já sabe produzir e armazenar hidrogênio em larga escala – como produto químico. A mudança virá com combustível produzido sem emissões de carbono ou até mesmo com emissões negativas no caso do processamento da biomassa”, explica o professor.
Trens movidos a hidrogênio verde já são uma realidade em países desenvolvido, como na Alemanha e na Inglaterra. Nos Jogos Olímpicos em Tóquio, este ano, também foram usados 500 veículos, entre ônibus e microônibus, abastecidos com o gás.
“Experimentalmente no Japão há mais de 400 mil residências usando uma pilha que utiliza o hidrogênio para produzir eletricidade. Da mesma forma que são utilizadas em carros, ônibus e trens, elas estão substituindo aquecedores e boilers, além de poderem servir para todas os possíveis fins (de eletricidade) de uma casa”, conta.
Paulo Emílio de Miranda ressalta ainda que a tendência é que essa alternativa de energia fique mais barata.
“Toda a tecnologia nova é cara porque os equipamentos necessários são produzidos em pequena escala. Produzir hoje hidrogênio a partir da eletrólise da água é cerca de é 5 a 7 vezes mais caro do que produzir hidrogênio a partir da reforma a vapor do gás natural, mas a expectativa é que a paridade de custo entre eles ocorra ao longo desta década. O hidrogênio de baixo carbono é necessário por conta da emergência climática”, declara.
Na COP 26, a secretária executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa, Olga Algayerova, classificou a energia nuclear e o hidrogênio como fundamentais para que o acordo de Paris seja cumprido até 2030.
“É preciso adotar tecnologias emergentes que serão adequadas para redes elétricas menores com aplicação para a dessalinização da água e produção de hidrogênio”, completou.
FONTE CNN