Com o impacto da guerra na Ucrânia no mercado de fertilizantes, empresa também trabalha para reduzir em 25% a dependência do Brasil de importações até 2030
Com o impacto da guerra na Ucrânia no mercado de fertilizantes, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vai lançar uma caravana de apoio técnico aos produtores rurais.
O objetivo é aumentar de 60% para 70% a eficiência no uso de fertilizantes e economizar US$ 1 bilhão no uso desses produtos na próxima safra.
As informações foram confirmadas à CNN pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti.
“Qual é o impacto em termos de economia? Economizar US$ 1 bilhão em fertilizantes para a próxima safra”, afirmou.
“Para aplicar adubo, primeiro você precisa fazer uma análise do solo para ver o que está faltando e nem sempre isso acontece. Nós vamos dar todas essas orientações técnicas nas principais regiões produtoras do Brasil”, explicou.
De acordo com Moretti, essa é a ação que a Embrapa montou para reagir “em curtíssimo prazo” ao conflito no Leste Europeu. Os técnicos da instituição vão fornecer treinamento para produtores, cooperativas e associações.
A caravana batizada de FertBrasil veio de outra iniciativa semelhante realizada entre 2013 e 2014, quando uma praga se espalhou pelo Cerrado do país, com forte impacto nas cadeias de algodão e soja.
O projeto deve começar junto com o anúncio de um plano nacional de fertilizantes pelo governo federal.
Em entrevista à CNN nesta semana, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, disse que o lançamento deve acontecer até o dia 17 deste mês.
Segundo o presidente da Embrapa, a produção agropecuária brasileira alimenta 800 milhões de pessoas no mundo, mas consome 8,5% do mercado de fertilizantes para isso.
O país é o quarto em uso de fertilizantes, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia — todos produtores dos insumos.
Moretti destacou que, em 2021, o Brasil importou 85% dos fertilizantes, cerca de 43 milhões de toneladas, sendo que 73% deles são empregados nas cadeias de soja, milho e cana-de-açúcar.
A Rússia, responsável pelos ataques à Ucrânia, é a principal fornecedora para o Brasil, com mais de 20% das importações. Uma das maiores necessidades é em relação ao potássio, sendo que 50% dele vem da Rússia e da aliada Belarus.
Diminuição da dependência
A Embrapa também tem um plano em andamento para diminuir a dependência do Brasil em relação ao mercado internacional.
A meta é reduzir em 25% a demanda por fertilizantes importados até 2030. “Nós não temos uma vara de condão para mudar isso do dia para a noite”, avaliou o presidente da Embrapa, Celso Moretti.
A instituição de pesquisa age em cinco frentes: biofertilizantes, organominerais, fertilizantes nanoestruturados, agricultura de precisão e condicionadores de solo com pó de rocha.
Entre os biofertilizantes, está um desenvolvido por pesquisadores da própria Embrapa, que descobriu duas bactérias que atuam no fósforo no solo — uma delas faz o fósforo se movimentar mais na terra enquanto a outra tem impacto nas raízes das plantas.
Na safra de 2020/2021, o Brasil contou com 300 mil hectares de plantações com essa tecnologia, número que saltou para 3 milhões de hectares no período 2021/2022.
No caso dos organominerais, um fertilizante mineral é combinado com fontes orgânicas, como esterco de animais.
Já os nanoestruturados fazem uma liberação controlada, mais lenta, das substâncias necessárias às plantas, enquanto a agricultura de precisão trabalha com um levantamento detalhado dos pontos da propriedade rural que necessitam de mais ou de menos adubo.
O último ponto, da “rochagem”, ainda está em estudo e deve apresentar resultados finais em dois anos.
Moretti destaca a importância do agronegócio, que representa 26% do PIB brasileiro. Segundo ele, é possível combinar pesquisa e tecnologia no campo para diminuir a dependência e reduzir custos.
Na década de 1990, por exemplo, a Embrapa descobriu uma bactéria que auxilia a captação de nitrogênio na plantação de soja.
Em 2021, a tecnologia ajudou o Brasil a economizar R$ 28 bilhões e ainda evitar o uso de nitrogênio vindo do petróleo, impedindo a emissão do equivalente a 100 milhões de toneladas de gás carbônico, estratégia que ainda contribui para conter as mudanças climáticas.
Sobre o impacto da guerra na Ucrânia na produção brasileira, o presidente da Embrapa acredita em efeitos mais intensos a partir da safra de verão, que começa a ser plantada em outubro, caso os ataques persistam.
“É difícil fazer qualquer previsão. Isso vai depender da extensão do conflito”, pontuou.
O governo brasileiro vem agindo com o que chama de “diplomacia de fertilizantes”, em busca de outros fornecedores como alternativa à Rússia e Belarus, como Canadá, Irã e Catar.
fonte CNN