Dados de pesquisa do Sebrae Minas indicam que sobrecarga de serviços domésticos e cuidados dos filhos levam mães a se tornarem empreendedoras em busca de maior flexibilidade de horários.
A empreendedora Sâmara Merrighi com os filhos — Foto: Arquivo pessoal
Sete a cada dez mulheres começaram a empreender depois de ter filhos. A maioria foi motivada pela maternidade e a busca por um trabalho que permitisse maior flexibilidade de horários, já que são elas que precisam, dentro de casa, dedicar mais tempo às atividades domésticas e aos cuidados com os filhos.
As conclusões são de uma pesquisa sobre maternidade e empreendedorismo realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas). O levantamento foi feito entre os dias 8 e 18 de abril, com a participação de 919 pessoas moradoras do estado, e divulgado nesta semana.
Entre as mulheres ouvidas pela pesquisa, 74,71% têm filhos. Enquanto 63,3% das entrevistadas realizam tarefas domésticas, como limpeza da casa, todos os dias, apenas 25,6% dos homens fazem isso sete dias por semana.
Além disso, 66,8% das mulheres preparam as refeições da casa todos os dias, enquanto apenas 27,5% dos homens dedicam esse tempo à tarefa.
O padrão se repete quando o assunto é higiene dos filhos. Quase metade das mulheres (49,3%) cuida dessa atividade todos os dias. Entre os homens, o índice é de 38,2%.
“O que a gente vê é que ainda há uma desigualdade na questão do papel doméstico entre homem e mulher, e isso, certamente, tem efeitos sobre o trabalho da mulher”, afirma a economista e analista da Unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Paola La Guardia.
Mais tempo com os filhos
A maior parte das mulheres (73%) começou a empreender depois de ter filhos e, para 53,6% delas, a maternidade influenciou na decisão. Principalmente para terem mais tempo e flexibilidade de horários:
Principais formas como a maternidade/ paternidade te motivou a empreender
Motivação | Mulheres | Homens |
Ajudando a escolher/ter ideia do que fazer | 15% | 9% |
Inspirando/ dando forças para superar os obstáculos | 47% | 53% |
Fazendo com que eu me preocupe mais em obter renda para a qualidade de vida da família | 57% | 85% |
Levando a preferir um trabalho que permita maior independência e flexibilidade de horários | 73% | 36% |
Fazendo me sentir melhor preparado após os aprendizados com os cuidados dos filhos | 30% | 20% |
Fonte: Pesquisa Sebrae Minas
As empreendedoras têm mais dificuldade de conciliar o cuidado dos filhos com o cuidado do próprio negócio. Enquanto 47,3% delas apontaram grau de dificuldade de 6 a 10, apenas 31% dos homens relataram dificuldade maior do que 5.
Três a cada dez mulheres não conseguem dedicar tempo suficiente ao negócio, dificuldade que atinge apenas 10% dos homens.
“As mulheres tendem mais a sacrificar o negócio pela família”, diz Paola.
Daniela Sônia Nazareth se tornou empreendedora depois de ter a segunda filha — Foto: Sophia Lara Nascimento/ Divulgação
A terapeuta e consultora Daniela Sônia Nazareth, de 40 anos, começou a empreender em 2010, depois da segunda gravidez. Antes, ela trabalhava como arquiteta de uma empresa e tinha dificuldade de dar conta de tudo: os cuidados da filha, o serviço e as tarefas de casa. O ex-marido trabalhava em Brasília e visitava Belo Horizonte de 15 em 15 dias.
“Eu trabalhava oito horas por dia, estava terminando a faculdade, minha filha ficava o dia inteiro na creche. Eu a buscava, fazia comida, cuidava dela. Tudo isso me desgastou demais, e pedi demissão. A maternidade foi o maior motivo para eu começar a empreender”, diz Daniela, que oferece mentoria e consultoria para mulheres.
Hoje, as filhas de Daniela têm 12 e 16 anos, e é mais fácil conciliar tudo. Mas, quando as meninas eram menores, ela precisava concentrar o trabalho aos finais de semana para se dedicar às garotas.
“Empreendendo consigo fazer meu horário, flexibilizar minha rotina e ficar mais tempo com elas”, conta.
Empreendedora Sâmara Merrighi — Foto: Debora Mansur/ Divulgação
No caso da empreendedora Sâmara Merrighi, a experiência como mãe de quatro filhos – um de 8 anos, dois gêmeos de 6 e o caçula de 4 – a inspirou a criar o brechó Wabi Resale, em 2020.
“Com a necessidade de aproveitar a roupa de um para o outro, comecei a entender que eu podia economizar, que era uma coisa bacana, as roupas ainda estavam novas. Comecei de maneira informal com amigas, em grupos de WhatsApp, trocando peças que eu não usava mais, mas percebi que dava para crescer e fazer disso um negócio rentável”, conta Sâmara.
Ela ainda trabalha em uma mineradora, mas o plano é se dedicar somente ao negócio no futuro.
A empreendedora destaca que só consegue se dedicar à carreira porque tem uma rede de apoio e, em casa, ela e o marido dividem as tarefas.
“Essa divisão é fundamental. A gente fala muito que a mulher tem que ocupar o lugar dela, mas o homem também tem que ocupar o lugar dele de pai”, afirma.
FONTE G1