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Buscando qualidade de vida e sentido no trabalho, jovens “pulam” mais de emprego

Maioria dos jovens de 18 a 24 anos permanece dentro de uma empresa até 2,9 meses; a partir dos 50 anos, esse número sobe para 10 anos ou maisMudanças comportamentais e econômicas catalisadas pela pandemia são precursoras de novos modelo de trabalhoMudanças comportamentais e econômicas catalisadas pela pandemia são precursoras de novos modelo de trabalhoKlaus Vedfelt / Getty Images

Impacientes? Instáveis? Intolerantes? Quando o assunto é mercado de trabalho, não é incomum ouvir adjetivos como esses direcionados a jovens da Geração Z — formada por pessoas nascidas após 1996. E, muito provavelmente, essas palavras saem da boca de pessoas bem mais experientes.

Os números confirmam esse cenário. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência coletados em 2020 apontam essa discrepância geracional no Brasil: quase um quarto dos jovens entre 18 a 24 anos permanece dentro de uma empresa por pouco menos de três meses (veja no gráfico). Esse grupo, conforme o levantamento, chega a  2,47 milhões de pessoas nessa faixa etária. Em seguida, 2,40 milhões (24,1%) ficam de um a pouco menos de dois anos.

Dos trabalhadores de 50 a 64 anos, 41,67% (o equivalente a 4,26 milhões de pessoas) ficam 10 anos ou mais num mesmo emprego.

A questão é: em vez de fazer carreira e buscar a vocação para o resto da vida, jovens profissionais tendem a desejar uma carreira um pouco mais movimentada.

Esse movimento não é visto só no Brasil, e ganhou até nome: “job hopping” (pular de emprego, na tradução do inglês). Nos Estados Unidos, dados da CareerBuilder, plataforma americana de recrutamento e seleção, mostram que a Geração Z fica, em média, 2 anos e 3 meses em um mesmo local de trabalho. Nos Baby Boomers, essa média é de 8 anos e 3 meses.

Qual a explicação para os dados? Segundo especialistas consultados pela CNN, existem razões sociais, econômicas e comportamentais para que o número de job-hoppers crescesse no país. Confira:

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Diferenças econômicas

Marco Tulio Zanini, professor da FGV, explica que as gerações têm experiências históricas diferentes. Especialmente para a Geração Y do Brasil, ou seja, aqueles nascidos nos anos 80 e primeira metade dos anos 90, tiveram uma vivência marcada pela escassez de recursos e de perspectivas.

Esses acabaram seguindo um curso mais tradicional de ação, em linhas de: procurar uma carreira para seguir durante toda a vida, buscar um emprego estável e permanecer nele até se aposentar.

Na última geração, as coisas mudam de perspectiva.

“Você olha para um país que, hoje, tem uma economia mais estável e uma melhor oferta de emprego, além de empregos melhores para quem se preparou. Os indivíduos podem empreender e criar seu próprio negócio, até construir uma carreira olhando para o exterior”, diz Zanini.

Busca por qualidade de vida

Alexandre Pellaes, professor e palestrante TedX explica que, tradicionalmente, existem 5 passos em uma carreira. Um indivíduo adentra uma empresa ou toma determinada decisão profissional na intenção de:

  • Aprendizado, para começar a navegar o mundo profissional;
  • Dinheiro, por vezes mais relevante que o aprendizado;
  • Status, na busca por um cargo de nível diferenciado e por liderar pessoas;
  • Qualidade de vida, pois, após conseguir o prestígio, o profissional começa a se perguntar como equilibrar as responsabilidades com a vida fora do trabalho;
  • Impacto, pensando no legado e na relevância que aquele trabalho terá para o mundo e sociedade.

Essa “escadinha”, seguida em grande parte pelos Baby Boomers e pela Geração X, é questionada pelas novas gerações, que estão preocupadas com qualidade de vida e impacto do trabalho desde o começo da carreira.

“Gerações mais antigas são focadas em fidelidade, solidez de carreira. Era tudo muito quadrado. Hoje, com ambientes e estruturas mais flexíveis, temos um convite constante para questionarmos nossas próprias carreiras”, complementa Pellaes.

Essas diferenças acabam levando a um inevitável conflito de gerações. Segundo o professor, as gerações mais velhas acham que as mais novas precisam “pagar pedágio” para atingir felicidade e realização profissional.

Esses comportamentos (e conflitos) transpassam todas as barreiras da vida desses jovens, tão empenhados na busca por significado. E, segundo os especialistas, o arranjo social permite isso: não há mais o peso nessa juventude para casar, formar uma família, ter casa e carros próprios. “Os contratos sociais foram flexibilizados, dando a essa geração mais liberdade”, complementa Marco.

Currículo picotado

Por esse comportamento, as novas gerações podem ser prejudicadas nas vagas e entrevistas de emprego? As empresas já estão prevendo esse comportamento para candidatos mais jovens?

Segundo Lucas Toledo, diretor-executivo da Pagegroup, empresa de recrutamento britânica, ficar muito tempo em uma empresa não é necessariamente um indicativo positivo na hora de contratar um funcionário.

“A questão é que ninguém entrega nada em um ano. É preciso de um tempo para entender um lugar, produzir valor, gerar entregas consistentes”, explica.

Sandra Gioffi, CEO do Trampo é Seu, startup que opera como um Hub para conectar talentos da periferia e as principais empresas do país, afirma que, ao mesmo tempo em que um profissional ficou pouco tempo na mesma empresa, esse currículo picotado permitiu que ele vivesse mais experiências em culturas e realidades diferentes.

“O mais importante é o talento de cada um, independente da geração e o engajamento que ele coloca naquilo que faz. Sendo objetiva, temos que ver esse movimento como natural, ou até saudável para todas as gerações”, finaliza.

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Remodelação do trabalho já é realidade

Essas mudanças comportamentais e econômicas, catalisadas pela pandemia, são precursoras na hora de pensar um novo modelo de trabalho.

Novas propostas já estão pipocando por aí — cada vez mais especialistas e empresas estão defendendo menos dias de trabalho e menos horas trabalhadas. Em relação à jornada de trabalho de 4 dias, por exemplo, 80% das pessoas entrevistadas pela empresa financeira Jefferies afirmaram que gostariam de trabalhar nesse modelo.

“A estrutura do trabalho está se atualizando”, diz Alexandre. “ Com essa insatisfação do modelo atual, as pessoas terão novos modelos mais flexíveis, mais humanizados, menos rígidos, que permitem com que se sintam mais realizadas nos cargos que ocupam”.

Para o professor Zanini, o comportamento das gerações que ainda não adentraram o mercado de trabalho depende da estabilidade econômica do país. “Teremos uma dificuldade muito grande de reter mão de obra qualificada, porque nossa economia não apresenta nenhum sinal de recuperação e robustez”, diz.

Ainda assim, os profissionais ressaltam que a discussão parte de um ponto de privilégio. Os dados apresentados não consideram a pirâmide social brasileira em sua totalidade. Enquanto classes com maior poderio econômico têm mais possibilidades de experimentar com a carreira, o trabalho pode ser uma oportunidade para se movimentar socialmente, trazendo respeito, status e dinheiro para quem não tem a mesma segurança financeira.

FONTE CNN

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